23.4.04
sempre estarei remando na paralela
21.4.04
à chacun selon le cas
          serena tem a chave do meu apto.
qdo chego, percorro vagando todos
os cômodos, a procurar vestígios
do seu dia. uma calçinha no chão,
um livro fora do lugar, um copo
sujo de leite. transbordo quando
descubro que ela realmente esteve
por aqui. e sempre, sempre me
surpreendo em encontrar aquilo que
já procuro. comove-me ver um par
de sandálias dela deixado ao lado
do sofá. calço-as e quem quiser pode
ver um tolo sorriso em meu rosto
enquanto assisto à tv, que não gosto.
uma vez encontrei seus óculos na
mesa de cabeceira, ao lado do meu
colchão. era tarde, eu já ia me deitar.
percebi o reflexo das lentes ali do
lado e, trouxe à mão, com carinho,
a armação. segurei-a junto ao peito
e dormi. pensei em que livro ela
estaria lendo então. e, em sonho,
revi as feições cujos indícios
procuro quando chego em casa.
          
     
          qdo chego, percorro vagando todos
os cômodos, a procurar vestígios
do seu dia. uma calçinha no chão,
um livro fora do lugar, um copo
sujo de leite. transbordo quando
descubro que ela realmente esteve
por aqui. e sempre, sempre me
surpreendo em encontrar aquilo que
já procuro. comove-me ver um par
de sandálias dela deixado ao lado
do sofá. calço-as e quem quiser pode
ver um tolo sorriso em meu rosto
enquanto assisto à tv, que não gosto.
uma vez encontrei seus óculos na
mesa de cabeceira, ao lado do meu
colchão. era tarde, eu já ia me deitar.
percebi o reflexo das lentes ali do
lado e, trouxe à mão, com carinho,
a armação. segurei-a junto ao peito
e dormi. pensei em que livro ela
estaria lendo então. e, em sonho,
revi as feições cujos indícios
procuro quando chego em casa.
20.4.04
j'ai cette chose. c'est tout que j'ai.
          eu acho super bacana essa coisa de
"tudo mundo erra". ou melhor, "todo
mundo pode errar". é jóia!
às vezes, a humanindade leva tempo
para consolidar um valor humanitário
e leva mais outro tempo para fazê-lo
vingar, uma luta social contra a hipocrisia.
anti-segregação racial, feminismo etc.
a liberdade do homem, já assaz proclamada
desde a revolução francesa, tem um
dedo nessa stória do livre erro. a aceitação
das capacidades e limites do homem, a
compreensão da coexistência social dos
seres, a metodologia da praxis, o aprendizado
humanitário, todas essas "coisas" podem
ser trazidas à baila para fundamentar
isso que já é unânime: todo mundo pode errar.
mas você já esteve em um leito cirúrgico?
já litigou judicialmente a guarda dos filhos?
já morou sob um teto frágil? já questionou
a higiene do seu almoço?
errar é humano, sofrer é humano. matar
e morrer também. isso não justifica nada!
é preciso dar um basta nessa complacência
medonha. será q ninguém quer assumir um
pouco de erro sem proclamar que "também
é humano"?
aí chegamos na música. isso porque, de uns
anos pra cá, surgiu um tal mérito em fazer
sem saber. acho q nego cansou de dizer q
não sabia, mandou todo mundo pastar. e
como é cool ser fodão, o resto da galera
entendeu de achar legal. assim, não saber
tb é legal.
pessoalmente não penso assim. gosto de
tudo bem feito. comida, trabalho, filme, música.
e, antes q alguém me pergunte se há o certo
e o não-certo na arte, respondo que assim
penso. mas é claro que eu posso também
estar errado.
          
     
          "tudo mundo erra". ou melhor, "todo
mundo pode errar". é jóia!
às vezes, a humanindade leva tempo
para consolidar um valor humanitário
e leva mais outro tempo para fazê-lo
vingar, uma luta social contra a hipocrisia.
anti-segregação racial, feminismo etc.
a liberdade do homem, já assaz proclamada
desde a revolução francesa, tem um
dedo nessa stória do livre erro. a aceitação
das capacidades e limites do homem, a
compreensão da coexistência social dos
seres, a metodologia da praxis, o aprendizado
humanitário, todas essas "coisas" podem
ser trazidas à baila para fundamentar
isso que já é unânime: todo mundo pode errar.
mas você já esteve em um leito cirúrgico?
já litigou judicialmente a guarda dos filhos?
já morou sob um teto frágil? já questionou
a higiene do seu almoço?
errar é humano, sofrer é humano. matar
e morrer também. isso não justifica nada!
é preciso dar um basta nessa complacência
medonha. será q ninguém quer assumir um
pouco de erro sem proclamar que "também
é humano"?
aí chegamos na música. isso porque, de uns
anos pra cá, surgiu um tal mérito em fazer
sem saber. acho q nego cansou de dizer q
não sabia, mandou todo mundo pastar. e
como é cool ser fodão, o resto da galera
entendeu de achar legal. assim, não saber
tb é legal.
pessoalmente não penso assim. gosto de
tudo bem feito. comida, trabalho, filme, música.
e, antes q alguém me pergunte se há o certo
e o não-certo na arte, respondo que assim
penso. mas é claro que eu posso também
estar errado.
15.4.04
ils viendront pour me tuer mais j'serais mort
          tem-me sido duro ver os filhos tomarem
conta das próprias vidas. primeiro foi ver a
flávia dirigindo o carro. ela sentava no
banco, fechava a porta, dava a partida, saía
de ré da garagem e me deixava de queixo
caído. senhora do fusca, controlava a
direção com uma firmeza que nela eu
desconhecia.
agora o flávio. sai antes que eu me acorde.
só o vejo chegar à noite, vem com a mochila
nas costas. diz que, ficando amigo do chefe
da companhia, deixa de ser trocador e
passa a motorista logo logo. vai ganhar
quase o dobro.
na mesa, com uma bolacha na boca, flávia ri.
aponta que ele não tem habilitação para
dirigir ônibus. ora, mas ela também não tem,
não pode falar. ele volta do quarto usando os
mesmos shorts vermelhos de ontem. diz que
professora ganha menos que motorista. a
janta 'tá quase fria.
amanhã cedo vou fazer as unhas. vou pedir
a flávio que me acorde, faço mais cedo o
café e pego carona com flávia. não gosto
de ir a pé, mesmo pertinho. a cidade está
violenta, e eu, nessa idade, não corro mais.
entrego bolsa, sandália, tudo e volto pros
meus filhos chorando. deus me livre!
eles são meus anjos. mas cresceram! com
alguma sorte, mantenho os dois comigo
mais uns anos. depois, serei sozinha. ele
viaja, ela casa. não terei a quem olhar.
semana que vem, cuidarei de comprar um
televisor pequeno para me fazer companhia.
meus netos, no futuro, virão me ver aos
domingos. eu faço um assado de panela,
e compro umas balas pra eles.
          
     
          conta das próprias vidas. primeiro foi ver a
flávia dirigindo o carro. ela sentava no
banco, fechava a porta, dava a partida, saía
de ré da garagem e me deixava de queixo
caído. senhora do fusca, controlava a
direção com uma firmeza que nela eu
desconhecia.
agora o flávio. sai antes que eu me acorde.
só o vejo chegar à noite, vem com a mochila
nas costas. diz que, ficando amigo do chefe
da companhia, deixa de ser trocador e
passa a motorista logo logo. vai ganhar
quase o dobro.
na mesa, com uma bolacha na boca, flávia ri.
aponta que ele não tem habilitação para
dirigir ônibus. ora, mas ela também não tem,
não pode falar. ele volta do quarto usando os
mesmos shorts vermelhos de ontem. diz que
professora ganha menos que motorista. a
janta 'tá quase fria.
amanhã cedo vou fazer as unhas. vou pedir
a flávio que me acorde, faço mais cedo o
café e pego carona com flávia. não gosto
de ir a pé, mesmo pertinho. a cidade está
violenta, e eu, nessa idade, não corro mais.
entrego bolsa, sandália, tudo e volto pros
meus filhos chorando. deus me livre!
eles são meus anjos. mas cresceram! com
alguma sorte, mantenho os dois comigo
mais uns anos. depois, serei sozinha. ele
viaja, ela casa. não terei a quem olhar.
semana que vem, cuidarei de comprar um
televisor pequeno para me fazer companhia.
meus netos, no futuro, virão me ver aos
domingos. eu faço um assado de panela,
e compro umas balas pra eles.
14.4.04
          carta aberta a mário quinderé
prezado mário,
hei de principiar desejando-lhe rápida
melhora. a pedra é má. tome bastante
água, o seu médico já deve lhe ter
advertido. e corte o ketchup.
agora, vejamos. é preciso que eu louve
sua atitude, a de criar um blog em seu
nome. um onde seja mais pertinente
discutir seus gostos musicais e
cinematográficos, ou pelo menos
aqueles que não estariam diretamente
ligados aos dead poets.
admiro também a liberalidade de deixar
um sistema de comentários à disposição
dos que passam, coisa que eu achava
igualmente necessária no outro blog. e
que o joão gabriel entendeu de admirar.
ao contrário do que circula, não ando lhe
tendo antipatias. aliás, temos nos
respeitado bastante sobretudo. todas as
dicussões que já viraram chacota na boca
de nossos amigos, as que envolvem o
nico e.g., por mais veementes que
tenham sido, nunca se mostraram como
ostentação de um desprezo antes
dissimulado. ora, se aceitamos até o
sofrimento mútuo pelos fracassos
futebolísticos!
preciso, ainda, concordar inteiramente
com algumas opiniões que você
expressou pelo blog dos dead poets
quanto às pessoas que trabalham e às
que permeiam o meio musical desta
cidadela. a impossível missão de
dissociar a apreciação do apreço
nessas cabeçinhas chatas.
abaixo a prepotência, a antipatia gratuita
e os músicos, "autorais" ou "do jazz",
tão imissíveis quanto óleo em água.
aglutinados para se proteger, parece-me.
reforço, ainda quanto à música, aquilo
que já havíamos discutido: não entendo
o desdém reservado aos músicos que
não têm trabalhos autorais. os mais
capazes maestros e componentes das
orquestras de todo o mundo vivem da
reprodução fiel daquilo que lêem em suas
partituras. não há criação, mas não há
demérito. e, mantidas as devidas
proporções, só acho mesmo que,
fazendo bem meu trabalho, não sou pior
do que os que compõem algo.
ademais, entraríamos no tópico da
valoração do que é criado neste caso,
ou reproduzido naquele - seara
altamente movediça. e tanto mais se
sabemos que chegam ao topo do mundo
quando fazem algum bom show nos
guetos de fortaleza.
a própósito, abro aqui um parêntese e
faço-lhe um pedido. use da sua influência
jornalística, que acredito ser forte, para
acabar com expressões como "música
autoral" ou "banda autoral". fique claro
que toda música é autoral, todas tem
autor, assim considerado também o povo.
e banda autoral? é uma banda de
autores? uma reunião de autores, sim?
todos ali compõem? até onde é
composição, a partir de onde é arranjo?
mário, por favor, reserve lugar apenas às
músicas próprias ou trabalhos autorais,
que aí resta algum sentido.
parece-me, quanto a um comentário seu
por aqui, que já se soube de um cover
dos pixies. é verdade, mas não deve lhe
motivar tanto quanto um que fizemos,
de uma tal banda inglesa, de uns quais
bem jovens e cheios de idéias ímpares.
esse eu quero refazer, remontar, retocar.
e queria poder contar com sua voz e
presença para tanto. posso?
por fim, novos votos de melhoras e
desejos sinceros de sucesso com o
trabalho nos dead poets, esses que
não morrem mesmo e ainda lançam cds.
--
onde há 'os dead poets', pode-se ler
'a dead poets', sem prejuízo relevante
à imagem da banda formada pelos meus
colegas, mário, evison, davi e daniel.
          
     
          prezado mário,
hei de principiar desejando-lhe rápida
melhora. a pedra é má. tome bastante
água, o seu médico já deve lhe ter
advertido. e corte o ketchup.
agora, vejamos. é preciso que eu louve
sua atitude, a de criar um blog em seu
nome. um onde seja mais pertinente
discutir seus gostos musicais e
cinematográficos, ou pelo menos
aqueles que não estariam diretamente
ligados aos dead poets.
admiro também a liberalidade de deixar
um sistema de comentários à disposição
dos que passam, coisa que eu achava
igualmente necessária no outro blog. e
que o joão gabriel entendeu de admirar.
ao contrário do que circula, não ando lhe
tendo antipatias. aliás, temos nos
respeitado bastante sobretudo. todas as
dicussões que já viraram chacota na boca
de nossos amigos, as que envolvem o
nico e.g., por mais veementes que
tenham sido, nunca se mostraram como
ostentação de um desprezo antes
dissimulado. ora, se aceitamos até o
sofrimento mútuo pelos fracassos
futebolísticos!
preciso, ainda, concordar inteiramente
com algumas opiniões que você
expressou pelo blog dos dead poets
quanto às pessoas que trabalham e às
que permeiam o meio musical desta
cidadela. a impossível missão de
dissociar a apreciação do apreço
nessas cabeçinhas chatas.
abaixo a prepotência, a antipatia gratuita
e os músicos, "autorais" ou "do jazz",
tão imissíveis quanto óleo em água.
aglutinados para se proteger, parece-me.
reforço, ainda quanto à música, aquilo
que já havíamos discutido: não entendo
o desdém reservado aos músicos que
não têm trabalhos autorais. os mais
capazes maestros e componentes das
orquestras de todo o mundo vivem da
reprodução fiel daquilo que lêem em suas
partituras. não há criação, mas não há
demérito. e, mantidas as devidas
proporções, só acho mesmo que,
fazendo bem meu trabalho, não sou pior
do que os que compõem algo.
ademais, entraríamos no tópico da
valoração do que é criado neste caso,
ou reproduzido naquele - seara
altamente movediça. e tanto mais se
sabemos que chegam ao topo do mundo
quando fazem algum bom show nos
guetos de fortaleza.
a própósito, abro aqui um parêntese e
faço-lhe um pedido. use da sua influência
jornalística, que acredito ser forte, para
acabar com expressões como "música
autoral" ou "banda autoral". fique claro
que toda música é autoral, todas tem
autor, assim considerado também o povo.
e banda autoral? é uma banda de
autores? uma reunião de autores, sim?
todos ali compõem? até onde é
composição, a partir de onde é arranjo?
mário, por favor, reserve lugar apenas às
músicas próprias ou trabalhos autorais,
que aí resta algum sentido.
parece-me, quanto a um comentário seu
por aqui, que já se soube de um cover
dos pixies. é verdade, mas não deve lhe
motivar tanto quanto um que fizemos,
de uma tal banda inglesa, de uns quais
bem jovens e cheios de idéias ímpares.
esse eu quero refazer, remontar, retocar.
e queria poder contar com sua voz e
presença para tanto. posso?
por fim, novos votos de melhoras e
desejos sinceros de sucesso com o
trabalho nos dead poets, esses que
não morrem mesmo e ainda lançam cds.
--
onde há 'os dead poets', pode-se ler
'a dead poets', sem prejuízo relevante
à imagem da banda formada pelos meus
colegas, mário, evison, davi e daniel.
13.4.04
          ceci n'est pas un blogue
          
     
          
9.4.04
          you and me and the devil makes three
ela me manda fotos. não me manda
letras, mas manda olhares. não manda
beijos. ela me manda bocas. abraços?
não. ela me manda o cheiro. e o cabelo.
pelo correio, ela só me manda fotos. e
já que há meses não a tenho, que vivo
a contar o tempo, de lá, ela se manda
em poucos. e é pra cá, pois enquanto
não vem, ela me manda rostos.
avisto! ainda lacrado, quando chega,
o envelope pesa um grito. mas, aberto,
um vento ao pé do ouvido: eu te amo.
e é por isso que ando a pensar que não
posso com essa mulher.
          
     
          ela me manda fotos. não me manda
letras, mas manda olhares. não manda
beijos. ela me manda bocas. abraços?
não. ela me manda o cheiro. e o cabelo.
pelo correio, ela só me manda fotos. e
já que há meses não a tenho, que vivo
a contar o tempo, de lá, ela se manda
em poucos. e é pra cá, pois enquanto
não vem, ela me manda rostos.
avisto! ainda lacrado, quando chega,
o envelope pesa um grito. mas, aberto,
um vento ao pé do ouvido: eu te amo.
e é por isso que ando a pensar que não
posso com essa mulher.
6.4.04
          ascenção, apogeu e queda
a proximidade entre duas pessoas é
capaz de, quando majorada, dispensar
o uso displicente de palavras. isso
todo mundo sabe.
todos sabem, também, que cães e gatos
usam constatemente a percepção
sensitiva para auferir os quereres dos
donos, dada a usual falta de voz daqueles
domésticos.
agora, eu preciso dizer que consegui
conversar com meu cachorro semana
passada. e eu não monologuei com ele;
nós conversamos efetivamente.
tenho feito isso com freqüência agora.
sento ao lado dele - é um doberman -
e finjo estar chorando. se você tem um
cachorro, sabe como é que eles choram.
passei a chorar assim também. e ele me
responde. e me consola.
criamos juntos um vocabulário. eu acho
que, em alguns anos, poderei escrever
um diccionário até.
tenho em vista, ainda, um methodo, que
venderei pelo mundo afora, espalhando
a livre comunicação entre homens e cães.
verba canidae. já digo até o título do
livro. quem escolheu foi ele, mas sei que
nisso podem não acreditar.
          
     
          a proximidade entre duas pessoas é
capaz de, quando majorada, dispensar
o uso displicente de palavras. isso
todo mundo sabe.
todos sabem, também, que cães e gatos
usam constatemente a percepção
sensitiva para auferir os quereres dos
donos, dada a usual falta de voz daqueles
domésticos.
agora, eu preciso dizer que consegui
conversar com meu cachorro semana
passada. e eu não monologuei com ele;
nós conversamos efetivamente.
tenho feito isso com freqüência agora.
sento ao lado dele - é um doberman -
e finjo estar chorando. se você tem um
cachorro, sabe como é que eles choram.
passei a chorar assim também. e ele me
responde. e me consola.
criamos juntos um vocabulário. eu acho
que, em alguns anos, poderei escrever
um diccionário até.
tenho em vista, ainda, um methodo, que
venderei pelo mundo afora, espalhando
a livre comunicação entre homens e cães.
verba canidae. já digo até o título do
livro. quem escolheu foi ele, mas sei que
nisso podem não acreditar.
1.4.04
mon coeur est à toi
...........................ton coeur est à moi